domingo, 13 de março de 2011

ÂNGELO OCHÔA DIZ 37 POEMAS SEUS.MPG

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  1. Sanguíneo fio
    riscando carne polpa de pêra.
    Ígneas tumbas por infames catacumbas.
    Clamei não abraçarmos a terra da paz;
    não entregarmos a inteira vida;
    não matar-nos
    fome e sede de justiça.
    Estrelinha num longe céu,
    frágil barquinha no forte mar,
    fruste borboleta p’la vastidão adejando,
    assim eras tu,
    por esse nosso mundo, meu amor.
    ‘Disse-to pelas nuvens,
    pelas árvores do mar,
    pela noite bebida,
    pela janela aberta,
    toda a carícia,
    toda a confiança sobrevivem.’
    Dar-me para trautear,
    pétala a pétala,
    sonetos que decorei.
    Porque desde há milénios Natal:
    Cultive-se, cante-se, ressoe,
    com o coro dos levíssimos alados entes,
    da felicíssima meia-noite de Bethlehem
    a imorredoura alegria.
    Tabor: Sonambulissimamente divagávamos,
    absortos discorríamos deslumbrando-nos
    o repleto da Luz um dia aclarada sobre a Terra,
    mal acomodadas as próprias tendas.
    Até tangermos O Inominável.
    Tarde sentada,
    folheiam-se lentos
    in-fólios amarelentos.
    Lembrar-te a rua,
    percorridas pedras,
    borboletas ziguezagueantes.
    A pastorinha veio às flores,
    e encontrou elefantes, malmequeres,
    papoilas, borboletas,
    a pastorinha da cara preta.
    A casa vazia, o quarto nu, o tijolo argamassado,
    a janela afundando-se num céu desconhecido,
    que desde um claro vão se divisava.
    Variegadas palavras
    por estantes debatendo-se,
    medicamentos certos
    da forçada sonolência.
    Frescas, simples,
    tais quais coisas,
    aí mesmo à mente,
    a estudar sempre,
    a desvelar de outras
    inesperadas palavras.
    De cerdeiros
    a rama
    a baloiçar.
    ‘Aujourd’hui je suis loin, mais je reviendrai un jour.’
    Raparigas dançando num terreiro, noivos a um comboio
    programado.
    À sombra de árvore
    alguém descansa,
    bambinos sumindo-se
    por dentro da folhagem.
    Alegria profunda,
    eis a verdade,
    um menino inclinado
    contra a parede.
    Por abraçar-te última em meus braços:
    Estavas desde início comigo, não te esqueci, enviada,
    força estabelecida sob ângulo da nossa casa com uvas.
    Assim fomos nascendo do grande nada,
    lágrimas, sorrisos, perdas redimidas,
    na alegria feroz das horas, companheira.
    Páscoa
    a morrer flores,
    ecoando vãos por grandes casas.
    Acontece-me ficar sentado a tarde toda,
    a refazer os gestos gastos.
    Ah,
    teu devastado olhar
    fixa o demorado mar,
    revolto um vento.
    Estremecimentos,
    meiguice,
    o todo morre-se-nos.
    Só somos divinos
    quando admiramos
    O Corpo Total
    dO Cristo,
    afiadíssima adaga
    até alma.
    Abelha
    por flores sardinheiras,
    pródiga manutenção.
    O espeleólogo
    afunda-se
    a si.
    Henrique:
    A cruz templária, no pano-cru das velas,
    às barcaças soltas mãos esboçam.
    Terras, céus, sopros, marés com rigor
    se analisam, especulam, estudam.
    A ousada variação, rumos definindo,
    vãs conjecturas vai desvanecendo.
    Do Infante obrigados, uns lusos nautas,
    com areais atinando, inauguram padrão.
    Seixo rolado,
    vezes sem conta batido das vagas,
    isto.
    Os versos leve insuspeita água
    até onde lhes respondam;
    colham a peixes mínimas mexidas;
    regressem com o escriba à mesa do tempo.
    Contigo,
    pombinha bailarina,
    os melhores arrebatamentos.
    Mistério de Luz:
    Sobre jumenta paz
    sobes a celeste Jerusalém
    e ouves A Aclamação:
    ‘Hossana ao Rei.’
    O escriba do olhar abrangente
    resolvera acabar letrinhas
    e abismar-se.
    Queridas graças,
    tudo de bom pra vocês,
    que quero dum amor
    tamanho quanto o ar.
    Após imprevista chuva,
    gorjeios, luz nua, cheiro a algas, maresia.
    ‘Vêm da dor directamente.’
    Trazem no olhar a mais firme certeza.
    Sagrados da verdade, feridos do ver,
    magoados heróis.
    Seu fito é o vago além:
    Desde a mais tenra madrugada
    se arrebatam.
    Madalena, Maria.
    P’lo sussurro da voz O conheceste:
    Não era o hortelão.
    Rabboni, ’xclamaste.
    Ele pediu-te que não O detivesses.
    Domingo único,
    açucenas, calmas.
    Missão
    cada hora.
    Régua,
    vinhedos coloram maravilha única.
    Relógio fixo a pulso e desalento,
    pronto esqueça teu mostrador
    de inexoráveis traços,
    cale teu ponteado cromático,
    mas levante mãos.

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